14 de dezembro de 2010

Entrevista: Vitor Benite

Na última vez que entrou em quadra pelo Campeonato Paulista, o jovem Vitor Benite não quis saber de descanso. Aos 20 anos, o armador do Franca jogou os 40 minutos da partida decisiva contra o Bauru e provou mais uma vez que a idade nem sempre fala mais alto. Quinze anos mais jovem que o companheiro de posição Helinho, o camisa 8 nascido em Jundiaí vai conquistando minutos na quadra e admiração na arquibancada. Logo mais, às 21h, ele abre a série semifinal contra o Pinheiros, time que o projetou no cenário nacional. Em conversa por telefone com o Rebote, Benite fala de tudo um pouco: o estadual, o NBB, a dor da derrota na Sul-Americana, as críticas do prefeito de Franca, o nosso calendário atropelado e o futuro na seleção brasileira.

Começa hoje à noite a série semifinal do Paulista contra o Pinheiros, que te revelou para o cenário nacional. É diferente enfrentar o ex-time?
Jogar contra ex-equipe sempre dá uma força a mais, mas acho que é normal. Foi pelo Pinheiros que eu fiz minha primeira liga nacional, foi muito bacana para mim, respeito muito o pessoal de lá. Mas na hora que entro na quadra, hoje defendendo Franca, tenho que pensar na minha equipe e estudar o adversário.


Vocês vêm de uma série difícil contra o Bauru, e na última partida você jogou os 40 minutos. Há uma “briga” interna numa posição que tem por exemplo o Helinho, que está ali há muito tempo. Em que estágio está essa sua luta por espaço no time?
Tem sido muito bom para mim, como experiência, jogar com Helinho, Rogério, são caras que me ajudaram desde o dia em que cheguei. É uma briga saudável que vai me ajudar a aprender. Luto a cada dia pelo meu espaço, treinando muito. A forma como eles me ajudam faz com que tudo fique mais fácil. Não tem briga, discussão, é realmente uma disputa saudável por posição.

Essa conquista de espaço acontece também com a torcida, né. Franca tem ídolos muito bem definidos, e você se tornou um dos favoritos do torcedor.
Desde o meu começo em Franca, sempre fui muito fiel ao trabalho. Eu me identifiquei muito com o Hélio por ser um cara que gosta de trabalhar. Na quadra eu tento mostrar isso, não desisto e estou lá para ajudar no que o time precisa. Isso fez com que a torcida de alguma forma se identificasse. Isso também me ajuda muito a entrar na quadra no meio desses grandes jogadores.


Hoje tem muito público de basquete na internet, e você é um jogador muito citado por esse público. Vi que você aderiu ao Twitter e ao Facebook. Como está essa relação com a internet?
Eu realmente fico muito feliz pelo pessoal gostar do meu basquete. A internet é uma chance de conversar e de as pessoas me conhecerem mais, saberem do que eu gosto. Agradeço esse apoio e acho que é legal, é um meio fácil de conversar com as pessoas que gostam de mim.

No NBB, vocês só jogaram três vezes, mas ainda não perderam. E os três rivais foram fortes (Brasília, Uberlândia e São José). Este é o ano para Franca voltar ao topo e disputar uma final?
Temos tudo para brigar. Nosso time é competitivo e está crescendo. Realmente foram poucos jogos, mas eles mostram que nós temos condição de ganhar de qualquer um, dentro ou fora de casa. Agora, é uma competição longa, tem outros grandes times, é difícil prever. Mas se a gente continuar focado, dá para levar o time à final.

O que faltou nos anos anteriores? Há muito tempo Franca procura um pivô 5 e tem dificuldade com os rebotes. O que tem de diferente agora?
Nos últimos anos, a gente estava sempre ali, mas realmente faltando alguma peça para ajudar, um cara grande por exemplo. Mas tudo depende de como o time se comporta. Neste ano nós também não temos um pivô 5, mas tenta compensar essa falta. Em alguns jogos realmente nós pegamos menos rebotes, mas não adianta ficar lamentando isso. Neste ano a gente sabe das nossas deficiências e do que podemos fazer, mesmo sem um cara de 2,15m ali no garrafão. A gente tem um time mais rápido, com um chute melhor, então dá para jogar em cima disso.

E a Sul-Americana? Vocês perderam para o Boca na estreia do hexagonal e não conseguiram passar para as semifinais. Foi um golpe muito duro?
Olha, vou ser sincero, a gente realmente não esperava. Treinamos, entramos focados, mas o jogo foi seguindo e o Boca veio para vencer, jogando bem. A gente não se encontrou. Em todos os esportes acontecem dias ruins, e nós estávamos passando por um dia ruim. Foi complicado. No outro dia tivemos que enfrentar o time da casa, o Flamengo, muito forte. Então na Sul-Americana foi muito difícil aceitar a derrota, porque a gente tinha se preparado muito para essa competição. Serviu para aprender que não importa o adversário, tem que entrar sempre muito ligado no jogo.


Depois da eliminação, vieram as cobranças. O prefeito de Franca pediu mudanças e até ameaçou tirar o dinheiro do time. Como você vê esse tipo de pressão?
Infelizmente o Brasil tem na cabeça que apenas título mostra que o trabalho é bem feito. Acho errado, mas o esporte no Brasil é assim. Então eu tento trabalhar para chegar na quadra e ganhar. O jogador tem que saber lidar com isso, principalmente numa cidade como Franca. As pressões a gente deixa do lado de fora, deixa o pessoal extravasar. Com o tempo vamos mostrar que é uma equipe vencedora.

Em Franca a resposta do time costuma ir além do resultado na quadra. Vocês participam de projetos, eventos com crianças, ou seja, existem outras formas de ajudar a cidade.
Exatamente. Franca gira em torno do basquete. Então a diretoria e os jogadores estão sempre ajudando, fazendo trabalho voluntário. Os jogadores servem como exemplos. Talvez por isso até haja mais cobrança, porque eles nos veem como campeões, vencedores, não aceitam derrotas. Então realmente as cobranças são feitas, às vezes de forma errada na minha opinião, mas faz parte de uma cidade que está acostumada com equipes campeãs. O jogador tem de lidar com isso.

A gente já falou sobre Paulista, NBB e Sul-Americana. Estamos num período do ano em que várias competições se atropelam, e muita gente tem reclamado do calendário. Como tem sido a maratona para vocês em Franca?
Nós somos treinados e preparados fisicamente para aguentar tudo isso. O Paulista e o Nacional são torneios feitos de forma independente um do outro, então a gente acaba tendo que lidar com questões de calendário. Por exemplo, a gente está disputando uma semifinal. E no meio da semifinal temos que ir para Joinville. Tira um pouco o foco, desconcentra. Se os dois calendários fossem feitos de forma conjunta, levando em conta cada região, seria bem melhor para os jogadores. Mas somos treinados para lidar com essa maratona, e tem um lado bom, porque quanto mais jogos e torneios, o basquete continua crescendo.

Para terminar, e a seleção brasileira? Você já foi convocado, mas não esteve neste último grupo. Em 2011 tem Pré-Olímpico. É uma expectativa na sua cabeça?
Olha, um sonho que eu sempre tive é ser um dos armadores da seleção principal. Mas sei que tem muitos jogadores com potencial. Só sei que vou treinar forte para conseguir. É um sonho que tenho desde pequeno. Quando sou cortado, só serve para me dar mais incentivo e treinar mais para a próxima.

Você sabe jogar nas posições 1 e 2. Em qual das duas você vê seu futuro na seleção?
Jogo nas duas, finalizo bastante. Se estou armando e me deixarem ir para dentro, vou fazer os pontos. Se for um jogo para armar e dar assistências, é o que vou tentar fazer. Sempre vou de acordo com o que o adversário me dá. Então no futuro posso jogar tanto de armador como finalizador. Tento fazer sempre as duas coisas.
(Rebote)

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